quinta-feira, 19 de junho de 2008

Fazem falta médicos geriatras

Os portugueses vivem até cada vez mais tarde, mas não significa que o façam com mais qualidade. Os desafios do aumento da esperança média de vida estiveram esta sexta-feira em debate no fórum "O Tempo da Vida", na Gulbenkian, em Lisboa.
Em 1990/91, a esperança média de vida à nascença em Portugal era de 77 anos. Quinze anos depois, a média de longevidade da população portuguesa aumentou para 80 anos e 17,6% da população tinha mais de 65 anos. Contudo, apesar desta tendência de envelhecimento da população e dos desafios que isso acarreta, nenhum dos cursos de medicina ministrados em Portugal tem formação obrigatória em geriatria. O alerta foi deixado por Maria do Céu Machado, alta comissária da Saúde, e subscrito pelo neurocirurgião João Lobo Antunes, promotor desta iniciativa. De acordo com a alta comissária, apenas uma faculdade de Medicina em Portugal tem uma cadeira opcional de geriatria, que dura 20 horas. "Uma situação que não pode continuar" dada a crescente necessidade de cuidados médicos especializados que a população idosa requer, disse. No debate, ficou claro que a classe médica não se entende sobre se se deve criar uma especialidade em geriatria ou se esta pode ser um ramo da medicina interna ou da medicina geral e familiar, mas certo é que todos concordam na necessidade de haver formação específica na "medicina dos velhos", como existe para os bebés. A este propósito, Maria do Céu Machado anunciou que o alto-comissariado pretende avançar, juntamente com a Direcção-Geral de Saúde, com a criação de um boletim de saúde do idoso (à semelhança do que existe com os bebés), onde os doentes concentrem toda a informação relativa às sua patologias e à medicação que tomam. Para já irão fazer uma "experiência-piloto para ver se o projecto vale a pena". Maria José Nogueira Pinto, ex-provedora da Santa casa da Misericórdia de Lisboa, lamentou que um "fenómeno tão previsível como o envelhecimento" não tenha sido devidamente preparado em Portugal e admitiu que, no futuro, dadas as reduções nas reformas, os idosos serão mais empobrecidos e não irão ter a qualidade de vida que merecem. Lamentou que, ao contrário do previsto, as verbas do Euromilhões não tenham sido gastas em equipamentos para apoio à terceira idade.
Fonte: Jornal de Notícias

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